quarta-feira, 10 de julho de 2013

visto sobre o não visto

nas ruas ardentes
de noites frias
dias cinzas
a cidade respira
inspira vidas
expira o outro

nas faixas da ousadia
vê-se o risco ilegível
acompanhar aquele que atravessa

o guia de si mesmo
que caminha para frente
anda sem direção

a sede de entrega se liberta
com os olhos
involuntariamente fechados
com os braços
entrelaçados por efêmera confiança
com as pernas
que caminham sem rumo
com a vida
entregue a outro alguém

nas ruas ardentes
de dias quentes
e noites coloridas
a cidade me inspira

terça-feira, 30 de abril de 2013

Acho atormentador o que aqueles olhos castanhos são capazes de fazer. Provocam tsunamis em lagos, reinventam a atmosfera... reagem com o meu olhar gerando reações físicas indescritíveis. Acho fascinante o que aquelas almas pluralizadas são capazes de fazer. Cada uma cumprindo seu papel na não-definição de um único ser. É encantadora a sequência de movimentos gerada com as mãos e braços, pés e pernas, formando uma conjuntura que não cabe em si. Transborda, arremessa-se do corpo pertencente e para aqui. Pára em mim sem respingar, sem atingir o que está perto, sem permitir estar em outro lugar. Laços inquebráveis formados pelo encontro do eu interior no outro... dedos que se perdem no curto espaço que distancia uns e outros e, assim, apertam-se os laços com cuidado para que não virem nós... ou permitindo que virem(os) nós. Nós sem desatar-nos, precisantes um do outro para um único fim: a existência dos múltiplos nós, formados de outros múltiplos eus, particularizados na existência das instâncias que saltam dos lábios e se entendem nos corpos...


...cautelosos passos são dados unindo vontades que se entendem.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

a queda

do amarelo fez-se o marrom
a dançar sob a tempestade noturna
perfumando flores beges
colorindo tecidos mortos
sussurou:
quis tonalizar o cheiro recém-nascido
usando os instrumentos das quartas-feiras

terça-feira, 27 de novembro de 2012

repare

fórmulas de invisibilidade
são doadas aos filhos renegados

cegueiras geradas pelos egos
conservam a boa forma da indiferença

casas sem telhado
não conseguem ofertar
nem estrelas como presente

corpo descoberto
traz negativas formas de arrepio

pare, repare, re-pare:
todas as noites e manhãs traduzem
os gritos das almas famintas

terça-feira, 20 de novembro de 2012

inspira-me... só assim expirarei

perdi de vista, da mente, do corpo e da alma. fugiu pro mar, aprendeu a nadar, voar, andar... infinitivos que não a tornam infinita... renovável, esgotável, contraditória. caos armado, calma introduzida... sai de casa sem pedir permissão criando furacões e redemoinhos internos. deixa rastros nas esquinas, nos bancos da praça, nas peças de dominó que são movimentados pelas mãos daqueles idosos... há fagulhas na flor que se perdeu do buquê, nos beijos dos casais, nos abraços apertados... espalha-se pelas gotas do vinho, pelas lentes dos óculos, vitrines e seus livros. não é tocável, mas me toca... me toca e me toca pra fora de si, pra fora de mim e das tantas outras pessoas que há no espaço que vai dos cabelos à ponta dos pés... o eu, múltiplo, enche até transbordar... e aí, entre uma enchente e outra, ela reaparece... indiscreta, notável, me toma, gasta, retoma, me alucina... vejo-a entre os goles dados na cerveja... ela se vê envolvida pela fumaça do cigarro da mesa ao lado... depois me invade como se eu fosse sua propriedade privada e a relação mútua de uso se inicia. lápis e papel, teclado e tela... sejam quais forem as testemunhas e escrivães, as provas vivem. essa prova vive... visível resultante do invisível. pessoas, coisas e sentimentos, venham! misturem-se e se permitam inflar. permitam que eu registre e os guarde... deixem que outros tantos se encontrem nos eus agregados em um só. visível, me deixe te sentir, se torne invisível... inspira-me.