sábado, 14 de julho de 2012

O Redondo e o Zelo [Parte I]

     Há um cara morando aqui, no sétimo andar, que vive a mercê do tecnológico, não olha para os pássaros que passam brincando diariamente e no mesmo horário em sua varanda nem vê as flores que frequentemente brotam do asfalto. Sei também que sua vida corre pelas privadas e ondas sonoras vindas pela televisão que, de tão alta e frequentemente ligada, é ouvida por toda vizinhança, assim como os latidos de seu cachorro altamente peludo.
     Levantava-se cedo diariamente – na verdade, quase não dormia -. Suas noites de sono eram, por vezes, interrompidas pelo barulho dos carros que andavam a mil por hora, o que gerava olheiras e um relacionamento sério com canecas lotadas de café durante quase todas as manhãs. Era de praxe perder a hora, vestir este mesmo terno amassado, pegar o elevador, ir correndo até seu carro e torcer para que o trânsito da avenida principal estivesse fluindo normalmente. Quando isto não acontecia, seu mau-humor e preguiça entravam em conflito para decidir entre buzinar ou não, se estressar ou não e até mesmo em retomar a possível noite mal dormida entre engarrafamento e trabalho... e que trabalho! Não é de minha competência comentar sua profissão, mas digo: é digna de admiração e, ainda assim, repleta de estresse. Talvez devido a isso sua vida cinza era aceitável. Não que me incomodasse o fato de aquele cara não receber visitas e não se preocupar comigo, mas em contrapartida, eu me preocupava com ele e nada podia fazer. Era reduzida a pó no caminho que leva à rotina, como um simples detalhe que embora pra uns fizesse diferença, tenho pura convicção que para ele, não.